quinta-feira, 14 de julho de 2011

 

Figura 2 – Tamanho médio das ninhadas de javalis em Trás-os-Montes (Norte), Beiras (Centro) e Alentejo (Sul).

Quanto à época de cópulas e de nascimentos das crias de javali vs época venatória em cada região, verificou-se a ocorrência de uma grande sincronização das datas de concepção com as datas de nascimento (120 dias após) e da sua repetição nas duas épocas amostradas. Os picos (da cópula e dos nascimentos) variaram de região para região (Figura 3). Assim, na Região Norte do país, a cópula ocorreu mais tarde e, consequentemente, os nascimentos também, com os maiores picos a ocorrerem nos meses de Março e Abril. No Centro do país o cio ocorreu um pouco mais cedo e a maioria das crias nasceram em Fevereiro e Março, com picos bastante acentuados. No Alentejo, os nascimentos ocorreram praticamente durante todo o ano, com um ligeiro aumento em Janeiro e Fevereiro. Foi também no Sul do país o­nde se verificou uma maior sobreposição (em termos temporais) da época de caça ao javali (pelo processo de Montaria, que ocorre entre Outubro e Fevereiro, com especial incidência nos meses de Janeiro e Fevereiro) com a época de nascimentos das crias de javalis, confirmando a ocorrência de nascimentos durante praticamente todo o ano nesta região.

Tais resultados têm por base não só os aspectos naturais intrínsecos aos habitats dominantes em cada região (clima, disponibilidade alimentar, coberto vegetal, etc.), como também os aspectos relacionados com a gestão das populações deste ungulado que variam consideravelmente de região para região e, em muitos casos, de zona de caça para zona de caça, sendo a alimentação suplementar (fornecida pelos caçadores e gestores durante alguns meses) um dos factores que mais influência tem na biologia desta espécie.
 

Figura 3 – Dinâmica reprodutiva das fêmeas de javali nas regiões Norte, Centro e Sul de Portugal, com destaque para o n.º e período das cópulas e dos nascimentos vs período das montarias ao javali.


TA informação obtida neste estudo permite, de forma sustentada, proceder-se a uma gestão e exploração mais adequada das populações de javali no nosso país. De forma a evitar desequilíbrios populacionais acentuados, nomeadamente grandes e rápidas diminuições populacionais, sugere-se a antecipação da caça ao javali através do processo de Montaria, em algumas zonas do país (especialmente do Norte e Centro), dentro do período legalmente previsto (Outubro a Fevereiro), evitando-se o abate de fêmeas gestantes, prontas a parir ou a amamentar nos meses de Janeiro e Fevereiro. Na realidade, as fêmeas neste estado são mais vulneráveis ao abate durante processos de caça como a montaria, uma vez que possuem uma maior massa corporal (estão mais pesadas e com maiores dificuldades de movimentação) e são mais reticentes ao abandono do local que seleccionaram para parir o­nde, muitas vezes, já construíram as suas camas. O abate destas fêmeas, para além de levantarem alguns constrangimentos éticos, conduzirá a uma diminuição da produtividade da população de javalis nesse ano. Contudo, é uma medida de gestão levada a cabo quando se tem em vista a diminuição da população de javalis, especialmente em situações em que o elevado número de indivíduos está a causar avultados estragos nas culturas agrícolas ou mesmo a provocar acidentes rodoviários. A realização de mais montarias em Outubro e Novembro irá reduzir a pressão cinegética ao javali em Janeiro e Fevereiro, de modo a salvaguardar as fêmeas em estado avançado de gestação ou já paridas e a amamentar. Contudo, tal medida implicará um reajuste de outras tradições venatórias em algumas regiões do país (sobreposição com a caça menor) e uma adaptação das matilhas a condições climatéricas por vezes adversas, nomeadamente devido ao calor em excesso.

Cada vez mais é fundamental que o gestor de caça tenha um verdadeiro conhecimento da população de javalis que gere, não só da sua tendência demográfica, produtividade anual, picos anuais de cópula e/ou nascimentos, como também dos habitatsque a suportam, de modo a poder implementar as medidas de gestão mais adequadas e proceder a uma calendarização das actividades venatórias de uma forma mais ajustada em cada época venatória.

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