quinta-feira, 14 de julho de 2011

Caça ao Javali com Arco ou com Besta


Caçar javalis com arco e flecha.
Há ainda muitos caçadores para quem caçar javalis, só com arma de fogo, caçadeira com bala
ou carabina de grosso calibre para secar o animal. Ali, não mexe mais. São normalmente os
aficionados de montarias e batidas, tão populares no nosso panorama cinegético. Outros há,
ainda no capítulo das armas de fogo, que optam pelo tiro de precisão com calibres
relativamente pequenos e normalmente em espera nocturna.
E depois há um grupo de caçadores, em expansão, que se dedica, também em espera nocturna, à
caça do javali mas com arco ou besta.
É verdade, os arcos e as bestas ainda existem, resistem e são usados. Portugal foi o
primeiro país que na Europa regulamentou o seu uso para caçar.
Como é que se caça javali com arco ou com besta?
99% dos caçadores que caçam javali com arco ou besta fazem-no pelo processo de espera. O 1%
restante além de ser dotado de uma paciência de Job apurou os seus instintos e métodos de
aproximação que fazem inveja a qualquer índio.
A espera é feita, como para as armas de fogo, utilizando um palanque, no chão ou em altura,
que não deve ficar a mais de 30 metros do cevadouro, ou local de passagem dos nossos amigos.
Esta é a distância máxima aconselhável, para fazer um tiro em segurança e que seja mortal, o
que torna este método de caça bem mais difícil do que com arma de fogo, uma vez que se está
praticamente “em cima” do bicho e só se pode fazer um tiro. Ou se acerta, ou quase de
certeza que ele se vai embora a abanar o rabo.
Ora o nosso amigo sus scrofa como sabem, é dotado de uma audição bastante apurada, de um
olfacto ainda melhor e das manhas próprias de um bicho selvagem que usa todos os sentidos,
mais o que aprendeu para se manter vivo. Para estar a 30 ou menos metros de distância de um
cevadouro sem ser sentido, é preciso muitas vezes ter um comportamento igual ao das presas.
Há que contar com tudo: os barulhos, o vento, o nosso cheiro ou o cheiro do equipamento, as
sombras nas noites de lua cheia, etc.
Utiliza-se o arco “compound” que, através de um sistema mais ou menos complexo de roldanas,
desmultiplica a força utilizada para o armar e imprime à flecha quando disparada,
velocidades que actualmente são superiores a 100 metros/segundo.
Também se usa a besta, que é a arma ideal para quem não tem tempo para praticar tiro com
arco (sim, é preciso treinar…), ou para quem usa ou usou armas de fogo e se quer iniciar
neste método de caça. O encare é idêntico ao de uma espingarda ou carabina, em muitos casos
existe uma mira telescópica ou um ponto vermelho. A velocidade é idêntica ou um pouco
superior à dos arcos “compound” e o projéctil, o virotão, é mais curto e mais pesado que uma
flecha.
A potência (força) deve ser igual ou superior a 60 libras para um arco “compound” ou 175
libras para uma besta.
Há caçadores que ainda usam o arco recurvo, clássico - parecido com os que vemos nos filmes
do Robin dos Bosques -, mas que em mãos experientes proporcionam resultados muito
satisfatórios.
As flechas (para os arcos) ou os virotões (para as bestas) que se usam para caçar são
idênticos aos utilizados para praticar tiro ao alvo, mas são munidos de pontas de caça, que
para o javali são pontas equipadas com duas ou mais lâminas extremamente afiadas, fixas ou
móveis e com pesos entre os 100 e os 125 grãos – a unidade de peso usada é a mesma que para
os projécteis das armas de fogo.
A morte das peças atiradas com flecha ou virotão ocorre por hemorragia provocada pelo corte
de vasos sanguíneos e os animais morrem ao fim de algumas dezenas de metros quando o tiro é
bem colocado – zona toráxica. Na maioria dos casos e por incrível que possa parecer a quem
não caça com arco os animais são trespassados e “apagam-se” sem as reacções que normalmente
têm quando são atirados com arma de fogo.
Onde caçar javalis com arco ou besta?
Os gestores das ZCA e das ZCM ainda não estão muito habituados a este tipo de caça pelo que
é raro encontrar palanques ou locais de espera que satisfaçam minimamente as necessidades
dos arqueiros-caçadores. Já há uma ou outra zona com palanques preparados, mas são poucas.
Já algumas ZCT estão a começar a apostar neste tipo de caça. Além de terem palanques
preparados para o tiro com arco ou besta, reservam parte da zona para a caça exclusiva com
arco ou besta.
Estas zonas de caça com arco ou besta servem um duplo propósito. Como são zonas em que não
são efectuados disparos que alertem a fauna, os bichos encontram um sítio de relativa paz e
descanso que serve como área de reprodução, indo depois povoar ou repovoar outras áreas da
zona de caça.
O efectivo não é muito diminuído quando se caça com arco ou besta uma vez que a taxa de
abate é baixa, e os arqueiros-caçadores são selectivos nas peças a que atiram.
Existe um grupo de cerca de quarenta arqueiros-caçadores que se juntou informalmente, e que
se auto-designa como o 1º Grupo de Caçadores com Arco ou Besta de Portugal
(http://1gcabp.wordpress.com). Estabelece acordos de caça com ZCs (Turísticas, Municipais ou
Associativas) ou compra postos de caça para os seus membros, fornecendo o know-how para a
criação ou adaptação dos postos de tiro negociados.
Neste momento já existem acordos com cinco zonas de caça perfeitamente adaptadas à caça com
arco ou besta: uma no Centro – serra do Açor (6 palanques); uma no Ribatejo: Herdade da
Agolada de Baixo (4 palanques); uma no Alentejo: Herdade de Vale de Reis (4 palanques); uma
no Algarve: Herdade da Pereira (6 palanques e 1000ha reservados…) e uma no Oeste: Os “M” do
Oeste em Torres Vedras (4 palanques).
Autor deste artigo: José Franco (arqueiro-caçador do 1gcabp)

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