quinta-feira, 14 de julho de 2011

Caça de Salto aos javalis

Pois parece-me que a "Caça de Salto" ao javali é uma coisa engraçada. Que saiba caça-se de salto, ou ao salto, ou a salto, à perdiz. Isto é persegue-se a perdiz com cão, sózinho ou em linha, até provocar esforçadamente o "salto" da perdiz. A perdiz pode também ser caçada de muitas outras formas, mas onde não se provoca "o salto" da mesma adiante do caçador, por exemplo caçando de batida, de enxota, caçando com perdigão, chamando-as imitando o seu canto (as suas "vozes", etc. Abreviando, a perdiz, bem como a codorniz, quando levantam fazem-no dando um salto bem marcado para o ar e só depois começam a bater as asas, daí o termo. Hoje está generalizada como forma de caçar a perdiz, a enxota, caçadores, contra caçadores, em que uns batem o terreno direito aos outros que ficam de portas. Esta forma de caçar era a mais utilizada pelos antigos profissionais, e que tal como as batidas em terreno livre, foram proibidas nos anos 50. Nas, agora antigas, Linhas de Perdizes era esta forma de caçar muito desconsiderada por pouco desportiva para peça tão nobre. Era a enxota considerada coisa utilitária, para se matarem muitas.
Os tempos mudam...
Ora bem a caça ao coelho ou à lebre é caça "de levante", pois estes bichos não "saltam", apesar de poderem aparecer e levantar-se quando caçamos perdizes a salto. O coelho caça-se específicamente com cães de levante, por exemplo podengos, e a lebre caça-se com cães de mostra ou com cães de corso, que a perseguem correndo. Daqui que o termo "a salto" para a caça ao javali seja engraçado e até ambíguo, pois a última coisa que os javalis farão será "saltar-nos". No entanto a intenção de quem o põe na Lei é louvável e nada ambígua, quer-se dar liberdade para que a caça ao javali não se resuma às esperas e às montarias. Resta saber se este impreciso e engraçado termo que agora aparece na Lei que nos rege se refere, ou admite, pequenas batidas, pequenas enxotas, ou se refere a caçar javalis em linha, ou a solo com cão.
Pelo que me parece está lá, na Lei, para abrir a caça ao javali a pequenos grupos ou pessoas isoladas, para que possam caçar o javali de forma mais maleável, menos cara e conforme a sua habilidade. Quanto a mim é uma intenção muito louvável e acertada, apesar de não se ter acertado muito bem no termo, e não estarem definidos os limites de participantes e de cães. Conforme está é um tanto vago. O limite de participantes será de cinco, como nas linhas de perdizes a salto...? E os cães, serão tantos como caçando perdizes, ou tantos como caçando coelhos? E porque não mais, ou menos? Poder-se-á caçar de enxota, ou só de batida com cães? Caçar-se-á apenas em linha?
Conviria definir e clarificar correcta e concretamente. 
Dando a minha opinião sobre esta, ou melhor estas, formas de caçar, pois isto é que é caçar. É assim que se aprende realmente a caçar os javardos. Era assim que caçava e que se caçou sempre, em pequenos grupos. Isto é de facto montear, e exige e propicia realmente conhecimentos e artes de caça aos caçadores intervenientes. 
A grande montaria comercial moderna, com armas de fogo, não é nem nunca foi tradição nossa, é coisa dos espanhóis, que importámos nos anos 80. Entre nós a tradição e a memória é a de raras grandes batidas e a de muito, muito, deste belíssimo e saboroso montear. Tanto as nossas antigas grandes batidas como as montarias dos Espanhóis eram realizadas só de quando em quando, por muitíssimo caras, de logística complicada, e por serem reconhecidamente dizimatórias. As portas eram para convidados e desde o Padre, a toureiros, ou políticos, ou autoridades civis ou militares, ou caçadores famosos, encontrava-se de tudo. Estas grandes caçadas eram custeadas e realizadas nas e pelas grandes casas agrícolas e organizadas, montadas e enquadradas por caçadores, "Capitães", locais de reconhecido saber e idoneidade. A comercialização, pelos Espanhóis, destas caçadas começou em meados de 60. Começou então a haver tantas portas para os habituais convidados, e umas outras tantas que se vendiam para custear a caçada. O que permitiu esta evolução foi o aumento dos efectivos de javalis. Chegou-se ao ponto de, além de se caçarem, se terem que envenenar, para se controlar o seu número e se reduzirem os prejuízos. Depois, príncipios de 70, a vulgarização da caça comercial veio regularizar e rentabilizar a situação.
Entre nós, em toda esta região da margem esquerda do Guadiana, as populações cresceram, aumentaram (e espalharam-se...) vertiginosamente desde fins de 60 até aos anos 80, quando começaram as montarias comerciais, copiadas do que já se fazia em Espanha. Este novo crescimento das populações de javali entre nós foi sempre acompanhado da sua caça por grupos, joldas, que à sua caça se dedicavam afincadamente. O crescimento das populações de javalis só estabilizou e começou a regredir, apesar de se lhes começar a dar de comer e a coutar, em meados de 80 anos. Quando se generalizaram as montarias receou-se, por aqui, que os javalis não aguentariam tal pressão e que rápidamente desapareceriam. Tal não aconteceu, e não obstante localmente o seu número ser hoje muito menor que então, eles continuaram a espalhar-se por todo o País.

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